sábado, 4 de abril de 2009

ANÁLISE DE ALGUNS POEMAS DAS LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA

Cela 1
José Craveirinha

Aqui estou neurastênico
Como um cão
Danado a lamber a salgada
Crosta das velhas feridasE em que língua
E com que rosto
Aos meus filhos órfãos de pai
Eu vou dizer que se esqueçam?

A prisão foi um ambiente de enorme sofrimento e luta do povo africano contra o colonialismo português, sendo tema de inspiração constante das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.

No título deste poema de Craveirinha, Cela 1, há o lugar em que o corpo e o tempo são marcados pela tentativa de o autor-sujeito poético exprimir seu manifesto contra ao que lhe foi imposto pelo
colonialismo: a privação da liberdade.

“Como um cão neurastênico” é uma expressão que traduz a agonia, tanto física, como psíquica,
causada em um ser torturado e aprisionado.

O autor moçambicano usa os vocábulos “língua” e “rosto” como questionamento em busca de sua
identidade, como elementos da dúvida da alteridade de que fizemos análise acima.

Há, também, a preocupação em como ensinar aos seus filhos, crianças africanas, o idioma português,
do povo que dominou África (sua pátria) e seus pais.

É um poema que envia ao colonizador uma mensagem contundente, em que o colonizado, prisioneiro, responde à tortura do regime com um discurso de expressões fortes

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