segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fotógrafos africanos expõem no Senegal, Guiné-Bissau e Gâmbia

Fotógrafos africanos expõem no Senegal, Guiné-Bissau e Gâmbia

"O objectivo da exposição é destacar a imagem da mulher africana na Europa e mudar a imagem de eternos emigrantes que os europeus têm dos efricanos".


Dakar - Os fotógrafos senegalês Djibril Sy, beninense Pelagie Gbaguidi e sul-africano Obie Oberholzer inauguraram em Dakar uma exposição que deverá estar patente igualmente na Guiné-Bissau e na Gâmbia.

A exposição itinerante intitulada "Africa Plural 3+3", que decorre em Dakar de 22 de Setembro a 12 de Outubro, vai prosseguir em Banjul, na Gâmbia, de 24 de Outubro a 2 de Novembro, em Ziguinchor, no sul do Senegal, de 7 a 20 de Novembro, e em Bissau, na Guiné-Bissau, de 25 de Novembro a 5 de Dezembro.

A mostra é organizada pelo Serviço Cultural da Embaixada da Espanha em Dakar, em colaboração com uma instituição cultural espanhola denominada Casa Africa, sediada em Las Palmas, nas ilhas Canárias.

"O objectivo da exposição é destacar a imagem da mulher africana na Europa e mudar a imagem de eternos emigrantes que os europeus têm dos efricanos", precisou Djibril Sy, fotógrafo da Agência Panafricana de Notícias (PANA).

De acordo com os organizadores, a exposição mostra os percursos de três fotógrafos que se distinguem pela sua reflexão sobre assuntos de identidade, deslocação, herança histórica e globalização.

Djibril Sy percorreu Dakar e as regiões do norte do país para fazer as suas imagens, relatar a vida económica, social, cultural, desportiva e política do país, o sul-sfricano Obie Oberholzer viajou em diversas partes do seu país, da Zâmbia e de Moçambique, enquanto o beninense Pelagie Gbaguidi escolheu a ilha de Gorée, situada a quatro quilómetros ao largo da capital senegalesa.

"Casa Africa é uma instituição que trabalha há dois anos para a promoção da cultura africana na Espanha. O seu objectivo é fazer conhecer a arte africana", declarou Djibril Sy.

Ao lado destas obras dos três fotógrafos, os organizadores expuseram igualmente clichés de jovens espanhóis que visitaram o Senegal e o Mali.

A "Africa Plural" organizou um concurso de fotografias denominado "Madrid Rumbo Al Sur", que permitiu a cerca de 100 jovens madrilenos de 16 a 17 de anos de idade percorrer durante 24 dias o Senegal e o Mali, onde visitaram vários projectos de cooperação para o desenvolvimento.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Angolano

Angolano
de
Neves e Sousa
Ser angolano é meu fado, é meu castigo
branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor ou coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

José Luandino

N'A cidade e a infância, José Luandino Vieira data os contos com dia, mês e ano, demonstrando que os escreveu numa só jornada. (Os textos foram organizados em ordem cronológica crescente.) Em dois desses dias escreveu dois contos em cada. Quatro contos, 40% do livro, em dois dias. Isso também diz um pouco, paradoxalmente, do processo criativo do autor. Ao mesmo tempo em que a linguagem é filtrada em sua máxima pureza para as páginas da obra, a velocidade com que o escritor opera essa ação é decisiva para manter intactas a espontaneidade e a verossimilhança. O espontâneo é derivado direto da captura em vida da matéria febril que os homens exsudam em seus movimentos, em suas falas. Isso é próprio do conto que repete o título do livro, onde um menino ardendo em febre, seriamente doente, caminha para a morte. Mesclam-se ao seu delírio o pai, a irmã, o irmão mais velho. As recordações. As idas ao cinema onde se apaixonara por atrizes e, da impossibilidade, tivera de carregar a dor maior que a causada pelo real: "São feridas que lhe doem, feridas de celulóide, que não cicatrizam mais". Conto memorável, como uma estada entre a vida e a morte, passagem da qual não há salvação, mesmo se por ventura alguém se safou.

Chama a atenção também A fronteira do asfalto, quando chega o momento, já adolescentes, em que um menino negro e uma menina branca são obrigados a desmanchar a amizade que os unira desde pequenos. Não mais crianças, aproxima-se o instante em que a juventude os porá no encalço de relações e a família da menina não deseja que ela corra esse risco com ele. Para ele, se ela relacionar-se com outro pode ocorrer ciúme, ou, mesmo que não a deseje, a desconfiança, cabível, de rejeição racial. Um mora numa margem da estrada de asfalto, tornado gueto, habitada só por negros. Outra, na margem oposta da estrada que atravessam, conversando, margem com melhores casas, jardins, e brancos, e só brancos. Pressionada pela família a afastar-se do menino, chora no quarto e, negando-se a discutir a questão (dá para discutir?), apenas obedece à mãe: "Está bem, eu faço o que tu quiseres. Mas agora deixa-me só". De tanto pensar e martirizar-se acerca do ciclo mortal em que suas vidas se encontram, o menino não suporta aguardar o dia seguinte, na escola, quando então poderia falar com a menina sobre o assunto, infindável. Vai a casa dela de noite mesmo. Não consegue entrar. A polícia surge, provavelmente chamada. Ele, assustado, corre, escala o caminho até a estrada de asfalto e, num escorregão, estatela-se, bate a cabeça, morre. "Estava um luar azul de aço." O universo, infinitamente indiferente. E os homens, claro: "De pé, o polícia caqui desnudava com a luz da lanterna o corpo caído".

50 mil euros do Prêmio Camões, que José Luandino Vieira recusou, ficaram com o fisco português. A outra metade, do governo brasileiro, ficou com a Secretaria da Fazenda. Saberão fazer bom proveito, para eles, como há muito fazem.

O AUTOR
JOSÉ LUANDINO VIEIRA, nascido a 4 de maio de 1935 em Portugal, é cidadão angolano pela presença ativa no movimento de libertação nacional e contribuição no nascimento da República Popular de Angola. Passou a infância e a juventude em Luanda onde freqüentou e terminou o ensino secundário. Trabalhou em diversas profissões até ser preso, em 1959. Conheceu a liberdade, relativa, em 1972, em regime de residência vigiada, já em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos, entre 1975 e 80. Foi secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Afro-asiáticos, de 1979 a 1984; e de novo Secretário-Geral da União dos Escritores Angolanos, de 1985 a 1992. Desde então se dedica somente à literatura, recluso. Entre seus 15 títulos publicados, destacam-se ainda os romances Nosso musseque (2003) e A vida verdadeira de Domingos Xavier (2003), e os contos de Macandumba (2005) e Velhas estórias (2006). Seu mais recente lançamento foi o primeiro volume de uma trilogia, De rios velhos e guerrilheiros - O livro dos rios (1a e 2a edições, 2006; 3a edição, 2007).

sábado, 13 de setembro de 2008

Canção do Mestiço

Francisco José Tenreiro

Canção do Mestiço



Mestiço!

Nasci do negro e do branco
e quem olhar para mim
é como se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.

Mestiço!

E tenho no peito uma alma grande
uma alma feita de adição
como l e l são 2.
Foi por isso que um dia
o branco cheio de raiva
contou os dedos das mãos
fez uma tabuada e falou grosso:
— mestiço!
a tua conta está errada.
Teu lugar é ao pé do negro.

Ah!

Mas eu não me danei ...
E muito calminho
arrepanhei o meu cabelo para trás
fiz saltar fumo do meu cigarro
cantei do alto
a minha gargalhada livre
que encheu o branco de calor! ...

Mestiço!

Quando amo a branca
sou branco...
Quando amo a negra
sou negro.
Pois é...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Literatura africana: A identidade e esperança angolana nas poesias de Agostinho Neto

Sitedeliteraturawww.sitedeliteratura.cjb.net
Literatura africana:
A identidade e esperança angolana nas poesias de Agostinho Neto


Para conhecer a literatura angolana, é preciso conhecer a poesia de Agostinho Neto. Nascido em Catete, Angola, em 1922, Agostinho Neto faleceu em 1979. Fez seus estudos primários e secundários em Angola. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa. Sempre esteve ligado à atividade política em Portugal, onde fundou a revista Momento com Lúcio Lara e Orlando de Albuquerque em 1950. Como outros escritores africanos, foi preso e desterrado para Cabo Verde.

"Poeta da hora revolucionária, combatente da luta anticolonial, primeiro presidente da República Popular de Angola, sua obra, ultrapassando os limites da história literária, confunde-se com a própria história recente do país. Condicionada pelas dificuldades do momento em que foi escrita, tanto a construção, quanto a publicação desta obra se dão de forma esparsa e irregular..."("Agostinho Neto: o lugar da poesia em tempo de luta" de Dalva Maria Calvão Verani in África & Brasil: Letras em laços. Org. de Maria do Carmo Sepúlveda e Maria Teresa Salgado. RJ: Ed. Atlântica, 2000)

Sua obra poética pode ser encontrada em quatro livros principais, que ainda não têm edições brasileiras: Quatro Poemas de Agostinho Neto (1957), Poemas (1961), Sagrada Esperança (de 1974 que inclui os poemas dos dois primeiros livros) e a obra póstuma A Renúncia Impossível (1982).
A poesia de Agostinho Neto é uma poesia engajada que apresenta as imagens poéticas das vivências do homem angolano. Mas ele não fala só do passado e do presente, mas também da busca, da preparação do futuro.

Amanhãentoaremos hinos à liberdadequando comemorarmosa data da abolição desta escravaturaNós vamos em busca de luzOs teus filhos Mãe
(todas as mães negrascujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.("Adeus à hora da largada" do livro Sagrada Esperança)
A poesia de Agostinho Neto fala da necessidade de lutar, de sonhar, de lutar pela independência. É preciso lutar por uma nova Angola, reconquistar a identidade angolana apesar da presença do colonizador.

"A poesia de Neto traz o reconhecimento de que nunca se está só, de que não se pode ignorar a presença do outro, mesmo que o outro reduza suas possibilidades de ser. O outro, nas palavras de Agostinho neto, mistura-se ao Eu-angolano, define-o, mas não lhe rouba as origens. Antropofagicamente, o outro é assumido, compondo a imagem autêntica do ser angolano contemporâneo: ser África porque, ' calibanescamente', o outro - que historicamente determinou os desvios da cultura originária angolana - se fez presença no corpo de Angola. Ser África dos caminhos entrecruzados, mas fazer-se África."("O Eu e o Outro em Sagrada Esperança" de Marcelo José Caetano - Caderno CESPUC de pesquisa PUC - Minas - BH, n.5, abr.1999)